“PYA AKASI”: As agências cotidianas de mulheres sena, em Marromeu, Moçambique.




António Domingos Braço [!]



Figura 1 – Mulher cultivando arroz em uma “machamba” (roça), cuja localização, próxima da residência, representa o âmbito “domestico” de atuação das mulheres.Figura 2 – Mulheres tomando banho às margens do rio Zambeze.Figura 3 – Mulher embalando a criança nas costas depois de lavar a roupas junto com sua filha.Figura 4 – Mulheres carregando vasilhas de água nas cabeças.Figura 5 – Mulheres “crianças e adolescentes” cuidando de outras crianças.Figura 6 – Mulher usando suas mãos para tecer cestosFigura 7 – Mulher usando suas mãos e força para pilar o arroz.Figura 8 – Mulheres cozinhando “xima”, uma mistura de fubá com água.Figura 9 – Mulher com criança nas costas, transportando batata doce.Figura 10 – Mulheres vendendo hortícolas no mercado.

A expressão “pya akasi”, traduzida para a língua do povo Sena significa “coisas das mulheres”. Estas fotografias fazem parte de minha etnografia nesta região, que traz o retrato das agências cotidianas das mulheres no distrito de Marromeu, Província de Sofala, em Moçambique, realizada durante o período de 2013-2015. O objetivo do trabalho é refletir sobre os modos de atuação, inserção, participação e protagonismos das mulheres na vida social, cultural e econômico dentro de um contexto em que são evidentes as diferenciações do que é próprio à construção da feminilidade e masculinidade.

Essas imagens remetem a ideia de gênero, partilhando o pensamento de Judith Butler (2000), como norma que governa a materialização do corpo, incluindo mesmo a questão da identificação, suas adesões ou negações a modos particulares de ser e estar que são socialmente aceites ou não em localidades específicas. Nelas também estão decalcadas as ideias coletivas pelas quais são atribuídas às mulheres atuações em esferas internas, para adotar um termo da antropóloga Maria Angélica Motta-Maúes (1993), cujos espaços comportam, conforme designado pela Denise Cardoso Machado (2000), as casas e os respectivos quintais.

Desse modo as ações das mulheres, mesmo que se assemelhem as que são realizadas pelos homens, tornam-se cultural e socialmente invisíveis. Quer elas madruguem para irem à plantação de arroz, catem água e lavem roupa ao rio, cuidem de crianças ao colo, pilem o arroz, cozinhem, pedalem a bicicleta, quer elas façam-se ao mercado, isso não passa mais do um modo de agenciar suas vidas cotidianas nesse contexto, o que designam de pya akasi.



Referências

MOTTA-MAUÉS, Maria Angélica. Trabalhadeiras e Camaradas: relações de gênero, simbolismo e ritualização numa comunidade amazônica. Belém: Editora Universitária UFPA, 1993, 228p.

BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO, Guacira Lopes (org.). O Corpo Educado: pedagogias da sexualidade. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

CARDOSO, Denise Machado. Mulheres Catadoras: uma abordagem antropológica sobre a produção de massa de caranguejo – Guarajubal/Pará. Universidade Federal do Pará. Mestrado em Antropologia, 2000.




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