O Ofício do vaqueiro remonta ao início da colonização, com a introdução da pecuária no Brasil. No nordeste, as fazendas de gado, expulsas do litoral canavieiro, adentraram a caatinga. O boi se tornou elemento importante nesse processo de colonizar e povoar o sertão, fornecendo carne, leite, tração, montaria. Com o couro o vaqueiro construiu sua roupa de trabalho: gibão, perneira, peitoral, chapéu. Artefato essencial para desbravar a vegetação espinhenta.
O presente ensaio fotográfico pretendeu analisar o processo de constituição da roupa de couro usada pelos vaqueiros, e a interação entre humanos e não humanos para a construção de próteses corporais; utilizando, para isso, o conceito de habilidade (skill) de Tim Ingold.
A pessoa e o ambiente formam um sistema irredutível, segundo Ingold, organismo-pessoa está em interação com o ambiente. Dessa forma, habilidade (skill) é a capacidade de ação e percepção como uma totalidade orgânica em um ambiente. Como propriedades de organismos humanos, as habilidades são tão biológicas quanto culturais. Com efeito, habilidade é compreendida não apenas como técnicas corporais, mas com um sentido que relaciona a noção de técnica às práticas sociais, onde corpo mente e ambiente são indissociáveis de pessoas entrelaçadas socialmente em suas práticas.
Sendo assim, O vaqueiro, encourado, quando parte em busca do animal desgarrado, se relaciona com diversos elementos e configura-se ele também enquanto elemento. É mediante esse processo de habilidade se relacionando com as práticas sociais que cada geração se desenvolve dentro e além dos conhecimentos de seus antepassados num processo que Tim Ingold define como habilitação (enskilment). Isso leva a concluir a contribuição que cada geração da a próxima, tanto na constituição da roupa do vaqueiro como na lida com o gado, que as habilidades não são transmitidas, mas se refazem de acordo com os modos de operação do organismo-pessoa em desenvolvimento.