Palavra-chave: Ciberfeminismo; Coletor Menstrual; Debates íntimos.
Keywords: Cyberfeminism; Menstrual Collector; Intimus Debates.
INTRODUÇÃO
A cultura contemporânea evolui desde a revolução industrial até o ápice da explosão da era tecnológica. Neste contexto, diversos autores têm explorado o estudo da comunicação digital, os seus impactos e características. Lévy (1999; 2009) ressalta que a Internet não é uma mídia tradicional, mas um ambiente que compõe vários instrumentos de comunicação. Este ambiente de comunicação digital gerou a criação de ferramentas que focam o exercício da sociabilidade: as Redes Sociais digitais (RECUERO, 2009).
Considerando a Internet um espaço de sociabilidade, as redes sociais oportunizaram um local de discussão e debates acerca de assuntos diversos, já que cria arenas de diálogos dentro do ciberespaço. As redes sociais virtuais são uma porta de entrada para a construção da identidade e da auto-apresentação (MEHDIZADEH, 2010). No ciberespaço, cada indivíduo exerce uma função e possui uma identidade cultural (RECUERO, 2009). Desta forma, este indivíduo cria relações que afetam diversas áreas de sua vida, sendo áreas de trabalho, estudo, relações pessoais de amizade, etc. Entretanto, a interação no ciberespaço baseia-se no conteúdo das palavras escritas pelo indivíduo, já que não existe um contato pessoal face a face, e o indivíduo é julgado mais por suas palavras do que por seu gênero, cor ou classe social (RECUERO, 2009).
Neste contexto de interação, muitos usuários de redes sociais digitais passaram a utilizá-las para publicar vídeos na internet como uma espécie de diário em que outras pessoas podem interagir através de comentários, esses usuários são chamados de vloggers[1]. Muitas mulheres se tornaram vloggers e passaram a utilizar o ciberespaço como uma espécie de ágora para debater questões íntimas e delicadas (LANGE, 2007). O canal no Youtube da brasileira Júlia Tolezano é um exemplo de utilização da rede para debates sobre questões políticas.
Desta forma, o objetivo deste trabalho é analisar os comentários da audiência do canal “JoutJout Prazer”, de Júlia Tolezano, e suas relações com a intimidade e privacidade. Os comentários coletados foram especificamente do vídeo intitulado “Vai de copinho”.
Em um primeiro momento, discutiremos os movimentos sociais na internet, principalmente o ciberfeminismo e como a internet é um espaço propício para debates políticos. Em seguida, faremos uma explanação sobre vloggers e youtubers e sua relação com seu público, principalmente na esfera da intimidade. A terceira parte do trabalho será dedicada aos procedimentos metodológicos para em seguida discutirmos os resultados.
MOVIMENTOS SOCIAIS NA INTERNET: CIBERFEMINISMO
Os estudos sobre cibercultura partem da ideia de que as novas tecnologias são ferramentas que promovem uma espécie de “efervescência social” no compartilhamento de emoções, convívio e de formação de uma comunidade (LEMOS, 2013, p. 91). As redes sociais da internet são um exemplo deste fenômeno, pois dentro deste ambiente de compartilhamento de informações, ocorrem trocas de experiências e conteúdos pessoais que contribuem para a formação da personalidade do indivíduo (RECUERO, 2004).
Em meados do século XX, os movimentos sociais que visam a transformação de valores e instituições da sociedade, passaram a se manifestar através da internet. Desta forma, o ciberespaço se torna uma espécie de ágora eletrônica global em que diversos sujeitos dialogam (CASTELLS, 2003). A pluralidade de vozes da sociedade civil no ambiente on-line representa grupos de pessoas identificados com ideologias e causas semelhantes. Na Internet, pequenas entidades encontram oportunidades de divulgação a baixo custo, pois a rede é muito mais democrática e permite que quem tenha acesso a ela se expresse de maneira livre (MORAES, 2000). As grandes empresas e organizações governamentais também utilizam o ambiente on-line para divulgar, interagir e dialogar com sua audiência. A Internet permite expressões de protesto individuais e/ou coletivos, interferências e diálogos com agências do governo e de empresas, visados como representativos de opressão ou exploração, o que proporcionou o surgimento dos ativistas do ciberespaço (CASTELLS, 2003).
Diante deste contexto de hiperconexão e liberdade de expressão através das redes sociais de internet, diversos grupos de ativistas passam a utilizar as redes para propagar seus pensamentos, ideologias e eventos. O movimento feminista, que durante muito tempo foi intimidado pela cultura do patriarcado, encontrou no ciberespaço uma oportunidade de ter suas vozes ouvidas. Apesar dos grupos feministas de debate através da internet serem relativamente recentes, o conceito de ciberfeminismo foi criado ainda em meados dos anos 1980, por movimentos influenciados pela contribuição da filósofa Donna Haraway em seu texto “O manifesto Ciborgue - Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX” (KUNZRU, 2000). Kunzru aborda em seu texto a revolução causada no movimento feminista com a publicação de Haraway. Para Haraway (2000), o ciborgue se trata da transformação da máquina de poder da Guerra Fria em um símbolo da libertação feminista.
Apesar de Haraway não concordar com o termo Ciberfeminismo, o mesmo está baseado na ideia de que em conjunção com a tecnologia, é possível construir nossa identidade, sexualidade e nosso gênero, como quisermos. Kunzru (2000) ressalta em seu texto que em uma conversa com Sadie Plant, diretora do Centre for Research into Cybernetic Culture, da Universidade de Warwick, naInglaterra, ela classificou ciberfeminismo como “uma aliança entre as mulheres, a maquinaria e as novas tecnologias”.
As ativistas do movimento feminista utilizam as redes sociais de internet e suas diversas faces de usabilidade tanto para discussões acerca das ideologias que envolvem o movimento, quanto para inclusão de novas ativistas no debate, utilizando as facilidades de interação oferecidas pelas ferramentas que configuram as redes sociais. A utilização do Youtube, rede social vinculada ao Google que oportuniza publicação e compartilhamento de vídeos através da internet, como diário pessoal realizado através de vídeos, gerou destaque para debates acerca do movimento feminista. Esses vídeos/diários são popularmente conhecidos como “vlogs”, oriunda da junção da palavra blog[2] e da palavra vídeo.
YOUTUBERS, TABUS E DABATES
Com 11 anos de existência, a rede social Youtube ganhou significados que vão muito além daquele para o qual foi criado. Com proposta inicial de compartilhamento de videoclipes e outros tipos de vídeos voltados para o entretenimento, o Youtube tornou-se uma ferramenta para negócios, estudos e até mesmo o aperfeiçoamento de línguas estrangeiras. Atualmente, milhares de usuários administram canais dentro da rede Youtube, normalmente ligados a um determinado tema, como filmes, jogos, decoração, culinária, etc.
Por ser o veículo de compartilhamento de vídeo mais utilizado no ciberespaço, o Youtube é a primeira opção de rede social para um vlogger, que com a popularidade de seus vídeos podem vir a tornar-se Youtubers. Os Youtubers são usuários que encontram na produção de seus vídeos uma profissão, principalmente quando envolve contratos e parcerias com determinadas empresas. Donos de canais de jogos, por exemplo, podem vir a ter parcerias com empresas de videogame, já os donos de canais de culinária podem ter parcerias com uma determinada marca de leite. Quanto mais popular o canal se torna, maior a chance do seu administrador se tornar um digital influencer[3].
Para comentar em um vídeo do Youtube, é preciso estar conectado a uma conta do Google. Devido a este fator, torna-se mais difícil comentar no modo anônimo, entretanto, é possível criar uma “conta fake [4]” de e-mail para poder comentar e compartilhar conteúdos sem ser identificado. O anonimato pode ser fundamental para que um determinado sujeito discuta abertamente questões íntimas em uma rede social, entretanto, a exposição da intimidade dos personagens presentes no vídeo, pode encorajar o debate, sobretudo entre mulheres (LANGE, 2007).
A diversidade de canais na plataforma é significativa e muitas mulheres utilizam a rede para discutir questões de seu interesse. Muitas vloggers estão ligadas a canais de beleza, entretenimento, culinária gourmet e movimentos sociais. A militância feminina através das redes sociais cresce cada vez mais
A antropóloga americana Patricia Lange (2007) defende a atuação de vloggers em relação a exposição de momentos íntimos em seus vídeos. Segundo a autora, essa exposição cria um espaço de discussão para questões delicadas e/ou pouco comentadas, levando os vloggers a terem uma maior compreensão de si mesmos e dos outros.
JOUTJOUT, PRAZER
Júlia Tolezano, que atende pela alcunha de JoutJout, é a criadora do canal “JoutJout Prazer” do Youtube, juntamente com seu namorado, Caio. Júlia tem 25 anos e é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Apesar de sua formação, o canal “Jout Jout Prazer” não tem um formato jornalístico e muitas vezes Júlia não reconhece a influência de sua formação acadêmica sobre o vlog (FANTONI, 2015).
O “fenômeno Jout Jout”, como Júlia ficou conhecida, foi ganhando espaço tanto no ciberespaço quanto nas mídias tradicionais. Por ser um formato descontraído e informal, o canal de Júlia chama atenção de públicos diversos, que se interessam tanto pelo conteúdo humorístico quanto pelo conteúdo social abordado no canal.
De acordo com os diversos canais de comunicação que comentam o impacto da produção audiovisual de JoutJout, e por inferência da própria autora, o destaque da vlogger é fruto da naturalidade e bom humor com que aborda os mais variados temas (FANTONI, 2015, p. 8).
O canal foi criado incialmente para discussão de temas diversos e de interesse do casal, levando em consideração o bom humor e o discurso livre e informal (FANTONI, 2015). Atualmente, o casal também produz conteúdos voltados para causas sociais como os movimentos feministas, LBGT e os que lutam contra o racismo. A abordagem de assuntos polêmicos aumentou o número de seguidores do canal e muitos usuários passaram a comentar e interagir com os vídeos postados.
As postagens acerca do feminismo ganharam repercussão e destaque em vários veículos de comunicação nacionais, tornando Júlia uma espécie de porta-voz do ciberfeminismo. O vídeo intitulado “Não tira o batom vermelho”[5] é o que possui maiores visualizações em seu canal e se destacou por abordar a temática relacionamentos abusivos, em que a maioria das vítimas (segundo Júlia) são mulheres. Além de aumentar o número de seguidores do canal JoutJout Prazer, o vídeo também serviu de inspiração para a gravação de um videoclipe da cantora Clarice Falcão em sua interpretação da música “Survivor”[6].
Depois desse vídeo, outras temáticas femininas passaram a ser discutidas no vlog, como os problemas que as mulheres passam durante o período menstrual, sexo do ponto de vista feminino, assédio sexual, estupro, etc. Como Júlia aborda temáticas polêmicas, é muito comum que uma parte da sua audiência comente que certos assuntos são íntimos demais para serem discutidos na internet. Entretanto, pela iniciativa de JoutJout de começar a discussão, muitas pessoas se sentem mais confortáveis em debater certos assuntos que em outros momentos não debateriam, mesmo que existissem dúvidas a respeito da questão.
A temática menstruação, por exemplo, ainda possui certas reservas em alguns debates, apesar de, teoricamente, já ser considerado um tema político passível de debate (MANSBRIDGE, 2009). Desta forma, Júlia Tolezano satiriza essa “reserva” acerca da menstruação sempre que vai falar do assunto em seu vlog, sempre chamando atenção para o fato de que menstruação é algo natural e deve ser discutido. No dia 18 de dezembro de 2014, o vídeo “Vai de copinho” foi publicado no canal de Júlia e a discussão era sobre os benefícios do coletor menstrual[7], como utilizar e higienizar. A partir desta discussão, nosso objetivo neste artigo é analisar os comentários postados neste vídeo e os conceitos de intimidade relatados nestes comentários e o debate acerca de assuntos teoricamente íntimos em uma rede social digital.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para este estudo, foi realizada uma pesquisa exploratória com a intenção de coleta de comentários (GARCÊS; CAL, 2013) realizados pela audiência do vídeo “Vai de copinho” do canal de Júlia Tolezano. Neste vídeo, a autora do vlog debate acerca da utilização de coletores menstruais e muitos dos seguidores do vlog manifesta sua opinião sobre o assunto através dos comentários do vídeo. Neste contexto de debate no ciberespaço, fizemos um mapeamento dos comentários feitos pela audiência do vídeo. Os comentários analisados foram realizados nos quatro últimos meses referentes à data da coleta de dados desta pesquisa. Em respeito à privacidade dos usuários do Youtube, os nomes dos comentadores apresentados neste trabalho serão mantidos em sigilo.
Com a popularização da discussão acerca de coletores menstruais e a relação da utilização deste com o movimento feminista, os acessos ao vídeo cresceram e os debates acerca do assunto nos comentários também se tornaram mais presentes. O total de comentários coletados do vídeo foi 122 e foram realizados no período de 07 de fevereiro a 07 de junho de 2016. O sexo dos comentadores foi classificado de acordo com o nome e a imagem no perfil, entretanto, não temos como afirmar com segurança se o sexo apresentado na rede social corresponde com a realidade do comentador.
Quadro 1: Dados da audiência do vídeo no Youtube.
Sexo |
Quantidade de Comentários |
Posicionamento positivo |
Posicionamento negativo |
Posicionamento neutro |
Mulheres |
93 |
55 |
23 |
15 |
Homens |
29 |
18 |
5 |
6 |
Fonte: As autoras.
Os 122 comentários foram divididos e classificados como positivos, negativos ou neutros em relação à utilização de coletores menstruais. Apesar de ser de uso exclusivamente feminino, homens também manifestaram sua opinião e fizeram perguntas a respeito do objeto. Os argumentos analisados foram considerados com o objetivo de identificar: a) Intimidades privadas e intimidades públicas; b) Intimidades femininas apenas? ; c) Intimidade e auto-reconhecimento.
ÁGORA NO CIBERESPAÇO
Castells (2003) classifica o ciberespaço como uma espécie de ágora eletrônica global em que os usuários de internet podem discutir assuntos diversos. Se encararmos o Youtube como mais uma arena de discussão dentro desta ágora, abriremos espaço para análises de debates intensos nos comentários desta rede social. O vídeo do canal “JoutJout Prazer” que discute a utilização de coletores menstruais gerou comentários diversos a respeito da temática menstruação e se isso deve ou não ser discutido em redes sociais digitais, já que (para alguns) o tema é bastante íntimo.
Alguns usuários, em seus comentários, defendem a que o tema deve ser debatido para que mais pessoas possam se informar e entender como se utiliza um coletor menstrual. A intimidade possui diversas esferas e é comumente confundida com a privacidade. Segundo Winocur (2012), o íntimo é um lugar que se reconhece tanto dentro como fora de casa. Como vimos no item 3 deste trabalho, usuárias de vlogs utilizam a plataforma para discutir temáticas íntimas, oportunizando o debate para sua audiência. O vídeo “Vai de copinho” gerou discussões a respeito dessa intimidade, como vemos no argumento da comentadora 1:
Comentadora 1: É muito nojento tirar e colocar isso aí, principalmente quando ainda não nos acostumamos. Morria de vergonha de dizer que uso. Parabéns por ter coragem de falar sobre isso aqui. (Abril, 2016)
O comentário remete a ideia de que a temática é delicada demais e causa vergonha ao ser discutida. Entretanto, a usuária passou a se sentir confortável diante do tema a partir do momento em que Júlia o abordou. Outra usuária também compartilha a opinião da comentadora 1.
Comentadora 2: JoutJout me abraça!!! Eu sempre quis saber como usar isso mas tinha muita vergonha de perguntar pras pessoas e as propagandas não são confiáveis. Vou experimentar e depois conto aqui (Maio, 2016).
A compartilhamento de experiências através de vídeos é uma prática que ganha força, principalmente entre as mulheres (LANGE, 2007), entretanto, homens também entram em debates polêmicos, mesmo que a temática seja feminina. Eles podem manifestar opiniões diversas e muitas vezes são criticados por algumas mulheres que acreditam que eles não tem como julgar certas situações pelo fato de serem homens.
Comentador 1: Achei desnecessário esse vídeo, já teve melhores. Falar de sangue de menstruação é de última e não serve pra nada. (Maio, 2016)
Comentadora 4: Desnecessária a sua opinião masculina sobre o que devemos falar nos nossos vídeos. Se tá incomodado é só se retirar por que vamos falar de menstruação sim e se reclamar falamos mais!!! (Junho, 2016).
Apesar dos comentários negativos, parte da audiência masculina também se mostrou positiva em relação ao coletor menstrual apresentado no vídeo. Certos comentadores mostraram certa “solidarização” às mulheres e ao fato de precisarem usar coletores e/ou absorventes internos, o que para eles parece ser algo muito difícil.
Comentador 2: Bah, ser mulher é realmente complicado, ainda bem que nasci homem, pois não aguentaria passar por essas coisas sem surtar.
A utilização de coletores menstruais também colabora para o conhecimento do próprio corpo, segundo Júlia em seu vídeo. A vlogger argumenta que as mulheres devem se conhecer para entender como o corpo funciona. Algumas comentadoras argumentaram que não conheciam direito o próprio corpo até passarem a utilizar absorventes internos e coletores menstruais.
Comentadora 5: (...) Eu não queria usar OB nem coletor menstrual por que achava que seria horrível pra fazer xixi. Só essa semana descobri que o xixi não sai pelo mesmo buraco que a menstruação.
Comentadora 6: É isso mesmo, Jout! A gente tem que conhecer a nossa pepeca. Eu estou eternamente conhecendo a minha (...).
Conhecer a si mesmo através do debate é algo que Lange (2007) considera importante. Para a autora, discutir temáticas íntimas pode gerar dúvidas e esclarecimentos que outrora permaneceram ocultos pelas máscaras da vergonha e da timidez.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A internet é um espaço de sociabilidade com diário crescimento de dados e usuários. Esse espaço é propício para debates públicos, o que tornou possível a criação de movimentos sociais dentro do ciberespaço como o ciberfeminismo. Desta forma, ao analisarmos certos debates dentro do contexto proposto pela internet, percebemos que discutir temáticas íntimas e delicadas pode levar ao reconhecimento.
O vlog “JoutJout Prazer” apresenta debates diários acerca de feminismo e temas delicados, o que tornou Júlia Tolezano uma das porta-vozes do ciberfeminismo. Podemos perceber neste trabalho que as pessoas podem se sentir encorajadas a falar de algo que outrora não falariam no momento em que outra pessoa inicia a discussão, dando exemplos pessoais. Esse incentivo leva ao auto reconhecimento e a quebra de tabus de questões que, teoricamente, não deveriam ser discutidas na internet.
Ao relatar sua experiência com coletor menstrual, Júlia deu a oportunidade para diversas mulheres também relatarem suas experiências, tirarem dúvidas e discutir a respeito de um assunto que é considerado delicado para diversas pessoas. Os homens que participaram da discussão também puderam emitir sua opinião e conhecer mais sobre aspectos do universo feminino, mesmo que muitas mulheres tenham rebatido suas respostas afirmando que eles não tinham direito de manifestar sua opinião pelo fato de serem homens.
Discutir intimidades no ciberespaço é algo recente, entretanto a tendência de crescimento deste tipo de debate é grande, já que se vive um momento em que ser youtuber é considerado profissão. Espera-se que este novo trabalho seja positivo para a ágora do ciberespaço e que os debates possam acontecer de forma a comtemplar todos os sujeitos que tiverem acesso a ele.
Referências
CASTELLS, M. A política da Internet I: redes de computadores, sociabilidade civil e o Estado. In: A Galáxia da Internet. Rio de janeiro: Zahar, 2003, p.114-138.
FANTONI, A. Não Tira o Batom Vermelho: a Informação na Performance de Jout Jout, Trabalho apresentado no Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Rio de Janeiro, RJ – 4 a 7/9/2015.
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GARCÊS, R. L.; CAL, D. Deslizes Morais na Cena Midiática. Revista E-Compós, v.16, n.2, p. 1-17, 2013.
HARAWAY, D. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. In: Antropologia do Ciborgue: As vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, p.33-46, 2000.
KUNZRU, H. “Você é um ciborgue”: Um encontro com Donna Haraway. In:Antropologia do Ciborgue: As vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, p.17-32, 2000.
LANGE, P. The Vulnerable Video Blogger: Promoting Social Change through Intimacy. S & F online. v.5, n. 2, 2007.
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[1] Usuário de vlogs.
[2] Espécie de diário on-line em que o autor tem a oportunidade de escrever textos e que os leitores têm a oportunidade de interagir através de comentários. O termo originou-se a partir de "web log" e foi promovido pelo website Blogger (www.blogger.com) como “blog” (GAO et al. 2010).
[3] Usuário de redes sociais digitais que movimenta e influencia uma grande quantidade de pessoas através da sua reputação em sites, blogs e redes sociais, para alavancar produtos, serviços e eventos (LOPES; BRANDT, 2016).
[4] Expressão utilizada quando se cria uma conta de e-mail ou de rede social falsa, que não leve a verdadeira identidade do usuário.
[5] https://www.youtube.com/watch?v=I-3ocjJTPHg
[6] https://www.youtube.com/watch?v=NlxFf40Lqx4
[7] Objeto semelhante a uma taça, feito de silicone cirúrgico, que tem a função de coletar o fluxo sanguíneo da menstruação, descartando a utilização de absorventes.