Exu, Xarpi e outras trocas sobre Ontologias Enigmáticas.



Samuel da Silva Lima [!]


Resumo

Antes de ser conhecida como “maravilhosa”, o solo da cidade do Rio de Janeiro já exibia contendas, inclusive com muitas delas ditas como símbolos, como as guerras. Dos combates entre os tupinambás, portugueses e franceses, para a política genocida do Estado, muitas práticas foram/ são marginalizadas, sobretudo pelos esclarecidos olhares conservadores, provenientes durante a colonização ocidental, e que mantém a tensão nas ressignificações contemporâneas permitidas com a modernidade.

Quando nos aproximamos dos saberes e práticas presentes na cultura do “ser carioca”, percebemos que suas ações discriminadas parecem mostrar certo parentesco umas com as outras. Exu, orixá conhecido no desfecho de uma série de características acerca da imprevisibilidade, evidencia situações também recorrentes no universo da escrita Xarpi como, por exemplo, os frequentes históricos de violência sobre corpos que se envolvem com os mesmos. O respectivo texto irá relatar como a entidade Exu e a cultura Xarpi são tratadas, com foco no impacto entre o corpo normativo e o corpo que quebra a normatividade.

Palavra-chave: Exu; Xarpi; Enigma




DDDDDDDDDDDDDD

Abstract

CCCCCCCCC

Keywords: XXXXXXXXXXXXXXXX




Visualizar Artigo
Arquivo em PDF





Exu, Xarpi e outras trocas sobre Ontologias Enigmáticas.



Samuel da Silva Lima [!]

“Mal se acende a luz

Nasce o grão das ilusões

Nas mãos do sonhador

A natureza pões

Maravilhosos dons

E faz da vida

Dia de graça

E faz do tempo

A cura da desgraça

Faz da paixão

Essa magia

Depois envolve o dia

Na escuridão”

(Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro – “Mãos vazias”)

Primeiramente, saudamos e pedimos licença para Exu[1], este que principia a linguagem e se comunica no cosmos da cultura ioruba[2], vigente nas diversas práticas afro brasileiras e em outras denominações pelo globo[3]. Com presença marcada na música[4], literatura[5], e em outras elaborações, iremos trazer neste texto Exu como gerador do movimento da vida, em uma inicial reflexão sobre as energias de encruzilhadas, que se contrapõe à linearidade moderna da compreensão ocidentalista – percurso estimulante vital para as provocações que serão expostas aqui.

Exu, é aquele que dá vida “ao que estava morto ou não nasceu”. (SIMAS, 2014, p. 15). Mesmo não sendo a própria realidade, pois precede a ela, Elegbara[6], senhor da irreverência, das artimanhas, sempre astuto, inteligente, malicioso e generoso, se torna a possibilidade para o acontecer do impossível, ao mesmo tempo em que deplora a segurança acumulativa, já que é inaugurador do acaso, rompendo com qualquer plano minuciosamente elaborado. Exu, “Mensageiro atrevido cutucado ao pé do ouvido[7], re-cria a vida com os seus recados através de metáforas, por enquanto aqui vistas apenas como dinamizadoras de fluxos, estas enxergadas pelas posições reacionárias, limitadas, confortadas no jogo de “cartas marcadas”[8], como uma representação do mal/ mau, diabólica.

Mas, quando enxergamos Exu como aquilo que nunca “abaixou a cabeça”[9] para o “bem”, ou que disse “sim” quando era “não”, e disse “não” quando era “sim”, facultado no processo de restrição daquilo que se funda na existência de bases diferentes, a demonização que criminaliza a entidade e suas extensões perde forças, e tem sua realidade civilizadora ameaçada pela ambivalência enigmática comum nessas energias afro-diaspóricas (ideia central sobre o que estamos provocando em todo texto). As atitudes endiabradas, estas que mostram um autêntico ressurgimento, que acontece no desfrute de ter o “benefício de realizar esta descida aos verdadeiros Infernos” (FANON, 2008, p. 26), nos leva para uma zona estéril onde, diferentemente da sociedade ocidental - dominadora do campo emotivo e controladora/ formadora da conscientização -, age na ideia de razão que não é separada da emoção.

As lógicas que exibem a necessidade de dominar o corpo, esta que queremos criticar neste texto, se mostram em uma realidade de tratamento diferenciado sobre certos corpos, sobretudo com aqueles de universos oriundos da diaspórica superfície do lado “derrotado”. Estamos falando dos ancestrais escravizados indígenas e africanos, ou melhor, os primeiros corpos a serem colonizados na formação do Brasil: estes que hoje realizam práticas e saberes ligados aos corpos que se envolvem em atividades tradicionais da afro-diáspora (como os que reverenciam a entidade Exu) e da cultura popular (que vamos ver sequentemente com a cultura Xarpi), fenômenos que parecem ter como maior público os descendentes dessa colonização.

Figura 1 – imagem de Exu Lúcifer catalogada para venda.

Figura 1 – imagem de Exu Lúcifer catalogada para venda.

Fonte: site Ebay[10].

Diferentemente da subjetividade moderna e suas forças que almejam encontrar na gramática o desvelo do enigma, essas epistemes não mostram a fixação de querer encontrar a clara “resposta para tudo”, a dita “humanidade esclarecida”, eliminadora de condutas vivenciadas de outras racionalidades, não hegemônicas. (COELHO, 2016). Assim, podemos lembrar de outra ação que cutuca o corpo de forma, digamos, prioritariamente imagética, em uma trajetória com pouco mais de 4 (quatro) décadas de existência, provocações e crimes[11] sobre os patrimônios privados e públicos, a piXação[12]: denominação brasileira para definir aquela grafia misteriosa e proibida, exposta em uma superfície especialmente urbana, através de um fenômeno que contém certa diversidade que leva a ressignificações próprias em cada território.

Conhecida no estado do Rio de Janeiro como Xarpi - palavra piXar ao contrário, é o dialeto usado entre os piXadores para identificar suas práticas e seus praticantes, ou seja, Xarpi é a piXação, e ser Xarpi é ser piXador, sempre no singular -, empiricamente, podemos dizer que esse fenômeno é uma prática popular juvenil carioca, que habita obras inconclusas, em atos simbólicos, vistos como antisimbólicos quando apresentados nos “cartões postais”, ou seja, na paisagem diversificada de belezas naturais e favelas, envolvendo o conhecimento carioca da “malandragem das ruas”, em uma “utopia romântica” que revela desejos de viver no pleno, ideal e perfeita maravilhosa paradisíaca. Imagem de uma estetização paisagística abstrata que tanto oculta desigualdades sócio espaciais delicadas contidas na distribuição de bens (equipamentos e serviços públicos) e nas negações das divergências epistemológicas existente na formação e manutenção de uma cidade, entre os diferentes bairros e regiões do espaço urbano da dita cidade maravilhosa, que exibe uma franca violência revelada em conflitos dados nas diferenças socioculturais, econômicas e (também) raciais.

No texto “Paisagens da natureza, lugares da sociedade”, do geógrafo Jorge Luiz Barbosa (2012), é discutido sobre essas questões sobre o sentido do “maravilhoso” contido no discurso sobre o que seria a cidade do Rio de Janeiro:

Os morros, planícies, manguezais e margens de rios e lagoas habitados pelas comunidades populares, ganharam historicamente significados muito distintos dos atribuídos à cidade maravilhosa. Eles representam uma paisagem a ser negada, algo que macula o culto ao maravilhoso da paisagem carioca. Os signos da natureza estilizada e os lugares da sociedade desigual se encontram e se afrontam: são símbolos e antissímbolos, em duelo na paisagem urbana, revelando distinções de ordem sociocultural e economia. (BARBOSA, 2012, p. 31).

Esse questionamento trazido por Barbosa sobre os símbolos e antissímbolos encruzilhados na dinâmica de estar e/ ou ser do Rio de Janeiro, nos remete a uma cultura tipicamente carioca, protagonizada majoritariamente por jovens oriundos de espaços populares - estes da cor da pele preta, pobres financeiramente e moradores das favelas, subúrbios ou outros loteamentos que sofrem estereótipos e enquadramentos subalternizadores. A prática Xarpi sofre com a amputação de suas formas corporais, materiais, vinculares, interpretativas[13], estabelecidas em seus variados perfis sociais, renegadores do viver a vida sem fruição. Essas restrições genocidas se posicionam como uma complexa continuação colonizadora presente nas ressignificações modernas, estas de elementos que objetivam civilizar os corpos, inclusive com bases racistas que objetivam exterminar os que não se enquadram. Sendo assim, queremos lembrar de dois casos que ocorreram na cidade do Rio de Janeiro entre 2015 e 2016, envolvendo os universos Exu e Xarpi: uma menina de 11 anos de idade, que foi apedrejada na cabeça após sair de uma festa de candomblé[14]; e 3 (três) jovens grafiteiros, que foram torturados por apoios[15] - trabalhadores que fazem a segurança nas ruas dos centros dos bairros e cidades brasileiras -, depois de serem confundidos com piXadores, no Centro da cidade do Rio de Janeiro[16].

Parece-nos que pelo fato dos dois casos terem ocorrido ações violentas, que, mesmo de formas e níveis diferentes, feriram, humilharam e (talvez) almejaram o extermínio dos corpos das vítimas, situação que possivelmente aconteceu através da racionalização de alguma ideia, que se validava como claro sentido para as possíveis “transgressões” pudessem sofrer aniquilamento. Neste momento, as energias que escapam da dimensão voluntária e cognitiva das consciências conservadoras, são posicionadas como “coisa nenhuma” ou até mesmo algo perigosamente mortal. A falácia: “não contém os traços necessários de uma religião”, dita por um Juiz Federal[17]; a opinião de um pastor: “Eu sinto algo estranho sobre aquele continente[18]; ou a ameaça emergente que sai da boca de um agente de segurança privada, “Se tú olhar pra mim, eu vou estourar a sua cara![19], evidenciam uma ditadura julgadora que traduz[20] figuras, metáforas, louvações, práticas e saberes de certos corpos dispostos nesses tipos de movimentos/ universos. Essa situação também mostra a insuficiência de aproximação com estruturas que se posicionam de forma impermeável aos sistemas filosóficos, estes que, como na entidade Exu e na cultura Xarpi, são marcados pela presença do que “não se quer ver... pois vê-la e entende-la seria conferir-lhe uma legitimidade que ela ‘não deveria’ ter.”. (MAFFESOLI, 2004, p. 77 a 78).

Figura 2 – o Xarpi Pifil, e a frase “Favela pediu lazer: ganhou UPP”, exposta em um muro no Largo da Carioca (Centro do Rio de Janeiro – RJ).

Figura 2 – o Xarpi Pifil, e a frase “Favela pediu lazer: ganhou UPP”, exposta em um muro no Largo da Carioca (Centro do Rio de Janeiro – RJ).

Fonte: Foto - Samuel Lima.

O que nos interessa nessa profunda questão são as síncopes desses universos, ou seja, a dissimulação que surge nas práticas, saberes e dizeres orientados por racionalidades de outras visões de mundo, assentadas em princípios cosmológicos, junto a relação do indivíduo com o tempo-espaço, em perspectivas que se opõem à racionalidade ocidental, frente às redes de relações, negócios e atravessamentos da composição de um determinado contexto social. Luiz Rufino dá um alerta para as ações que criminalizam não só a figura de Exu, como outras ambivalências afro-diaspóricas. Ele lembra que o termo macumba/ macumbeiro (a) usado comumente em histórias com traços de matrizes africanas, ao mesmo tempo é empregado na sentença de declarações ignorantes, preconceituosas e violentas sobre as manifestações tradicionais do candomblé, umbanda, jongo (RUFINO, 2014, p. 75).

É nesse sentido que Exu tem seu endeusamento considerado como errado por devotos de outras denominações de crenças em nosso cotidiano. O resultado dessas conscientizações violentas está presente no largo histórico de casos de intolerâncias e/ ou racismos, inclusive em espaços institucionais[21] e sobre os lugares de resistência - os terreiros, por exemplo, ainda enfrentam os múltiplos ataques, como o que aconteceu no caso da Mãe Gilda de Ogum, morta após a publicação do jornal Folha Universal[22] (edição com 1372000 exemplares, distribuídos gratuitamente entre 26 de setembro e 2 de outubro de 1999), trazia na capa o título “Macumbeiros, charlatões, lesam o bolso e a vida de clientes”. O veículo de comunicação desmantelou uma imagem de Mãe Gilda, ilustrando-a com uma tarja preta em seus olhos, “normalmente” usada para não identificar alguém que está envolvido em crimes. Após essa exposição, a casa de Mãe Gilda foi invadida e destruída por religiosos neopentecostais, onde ela sofreu seu primeiro enfarto, e que depois disso, em 21 de janeiro de 2000, a mãe de santo veio a falecer[23].

Esse contexto de intransigências se dá em um “longo processo de trocas, diálogos, negociações, imposições e resistência entre os sistemas religiosos africanos e os de origem cristã, como o catolicismo e, mais recentemente, o neopentecostalismo” (SILVA, 2015, p. 18). Até as primeiras décadas do século XX, tudo que estava associado à cultura negro-africana (o samba, a capoeira, o jongo, a feijoada, a umbanda, o candomblé), não foi legitimado para representar o Brasil, e sim criminalizado. (SILVA, 2015, p. 154). Mesmo que o candomblé e a umbanda estejam dentro da autonomia de diversas instituições e ações legislativas consolidada ao longo dos séculos XX e XXI, é inegável que ainda hoje as relações umbilicais entre os terreiros e outros espaços de produção e de sociabilidade afro-diaspórica - seja pela cultura, arte, ou algo do tipo -, mostra que “andar de branco” é um ato de coragem. No Rio de Janeiro, a dita “misericórdia” que aparecem nos discursos dos fanáticos religiosos, estes que se mostram devotados pela verdade única, não exibe uma prática de compaixão, nem mesmo o público infantil, já que é o estado com mais casos de denúncias de intolerância religiosa contra crianças[24].

Essa eterna tensão “colonizador versus colonizado” acontecem na cidade do Rio de Janeiro antes mesmo de nascer o primeiro carioca, a partir de diversas contendas dos exploradores, conquistadores e moradores nativos, nos conflitos entre tupinambás, portugueses e franceses. Em “Rio antes do Rio” (2016), livro que tem como foco a formação da cidade do Rio de Janeiro pelo “ponto de vista” dos “vencidos”, através do mergulho no nebuloso e energético passado “carioca” que ainda iria acontecer. Diante de várias provocações memoriais e desconstruções realizadas pelo autor Rafael Freitas da Silva, uma delas destaca a origem do próprio nome carioca, que na ideia de base ocidental - privilegiadora da visão dos colonizadores europeus -, tem como significado “casa do homem branco”, ação que exalta a figura dos navegantes, dos primeiros colonos, dos capitães, dos padres jesuítas, enfim, dos “conquistadores”/ aniquiladores, ao mesmo tempo em que anula a vida nativa dos originais povos que lá viviam, antes da chegada das grandes navegações.

Rafael lembra que Jean de Léry, um dos primeiros a elaborar uma fonte sobre a história da cidade do Rio de Janeiro - anteriormente à sua fundação, que só veio acontecer em 1565 -, mostra uma hipótese sobre o significado de kariók (carioca) diferente, pois a expressão teria a denominação de “a casa dos carijós”, entendimento que sempre foi desprezado, com o argumento que seria improvável o uso desse sentido por parte dos tupinambás, já que o nome tinha relação com uma tribo inimiga. (SILVA, 2016, p. 98). Esse julgar histórico, que despreza os conflitos, ao mesmo tempo que exalta a força corpórea e epistêmica colonizadora, exclui a outra parte da ambivalência que ainda está intrinsecamente no “ser” carioca: filhos e filhas de índias escravizadas, e um pouco mais tarde, de outras mulheres escravizadas, trazidas da África, e que aqui foram/ são esquartejadas, estupradas e ignoradas pelo conceito de “democracia racial”, uma das bases racistas que se estabeleceu no Rio de Janeiro, em outras partes do Brasil e (porque não) do mundo.

O discurso deturpado da “democracia racial” é uma ação colonial, inscrita através da forma de governabilidade, em que algumas práticas, como lembra o indiano Homi Kamat Bhabha:

(...) reconhecem a diferença de raça, cultura e história como sendo elaboradas por saberes estereotípicos, teorias raciais, experiência colonial administrativa, e sobre essa base, institucionaliza uma série de ideologias políticas e culturais que são preconceituosas, discriminatórias, vestigiais, arcaicas, “míticas”, e, o que é crucial, reconhecidas como tal. Ao “conhecer” a população nativa nesses termos, formas discriminatórias e autoritárias de controle político são consideradas apropriadas. A população colonizada é então tomada como a causa e o efeito do sistema, presa no círculo de interpretação. O que é visível é a necessidade de uma regra dessas, o que é justificado por aquelas ideologias moralistas e normativas de aperfeiçoamento reconhecidas como Missão Civilizatória ou o Ônus do Homem Branco. (BHABHA, , 2010 p. 125).

Essa é a lógica eurocêntrica que anula e vela “todo sangue derramado[25] que acontece na fundação de cidades como a do Rio de Janeiro, através de hostilidades, genocídios, e outros “produtos do sangue misto”. Uma coleção de fatos francamente aniquiladores, seja no quadro legislativo ou no julgamento popular da vida, em situações que ocorrem através da força julgadora, em ideias fechadas presentes no longo percurso de consolidação do pensamento patriarcal, que exterminam corpos durante toda a colonização subjetiva e corpórea presente no nosso país, em troca do domínio ocidental. A primeira parte da música “Mãos vazias”, citado como epígrafe neste texto, onde a “desgraça” é trocada pela “graça”, depois do nascimento do “grão das ilusões”, nos fez lembrar do contraditório universalismo moderno e suas lógicas de emancipação que tem o “bem” como “efeito”, ação de apologia e justificativa de todos os colonialismos e etnocídios realizados pela ocidentalização do mundo a partir do século XVIII, e que acompanha o cotidiano contemporâneo, assim como estamos exemplificando durante todo o texto. Com foco na ideia de cultura[26] como algo que liga o homem a teias de significados entrelaçados por ele mesmo, tentamos aqui provocar sucintamente a cidade do Rio de Janeiro em seu caráter “semiótico” (signos), onde muitas das vezes a cultura mais confunde do que esclarece, na interpretação do ser humano como um enigma completo – por exemplo, apesar de falarem a mesma língua, pessoas da mesma nacionalidade não se entendem (GEERTZ, 2008). Deste modo, seguimos as linhas de provocações sobre as complexas tramas no cotidiano dos discursos realizados pelas populações em dispersão, através da aproximação com os fios narrativos visíveis e invisíveis, estes que são entendidos/ vividos nas trajetórias protagonizadas por sujeitos (as) que operam pela “inteligibilidade de suas práticas, suas redes de saberes, suas capacidades inventivas e suas formas de organização social” (RUFINO, 2014, p. 67).

Empiricamente, com o foco na ontologia da constituição do ser e das práticas, ao nosso ver, Exu e Xarpi são análogos epistemologicamente quando os dois fenômenos são enquadrados na ideia aparentemente de julgo, ação que esculhamba com o povo de santo, através do padrão moralista dos chamados “justiceiros”, desenvolvidos na trajetória das múltiplas facetas do extermínio[27], mesma ação genocida presente na vida piXadora, marcada pelos estereótipos circunstanciais, que recusado as ambivalências presentes nessas atividades cotidianas, de “reação teórica e política que desafia os modos deterministas ou funcionalistas de conceber a relação entre o discurso e a política.”. (BHABHA, 2010, p. 106).

Os estereótipos aprisionadores de um mundo dissímil se mostram, por exemplo, nos graves comentários midiáticos realizados pelos meios de comunicações hegemônicos e de massa, como os que aconteceram em fevereiro de 2014, quando a âncora do telejornal “SBT Brasil”, Rachel Sheherazade, fez declarações que infringem os Direitos Humanos, ao defender a ação de “justiceiros” que espancaram, desnudaram e amarraram um jovem que estaria furtando pela região do bairro do Flamengo (Zona Sul carioca). Sheherazade chamou o jovem, negro e (aparentemente) morador de rua de “marginalzinho”, e explicou que o ocorrido teria sido uma ação de “legítima defesa coletiva”, explanando que “a atitude dos vingadores” é “compreensível”[28]. Sheherazade fomenta ideias sobre o mal/ mau unicamente como algo “pecaminoso”, demoníaco, logo, não reconhece, como já disse Michel Maffesoli, a importância da “volta aos místicos”[29], momento em que algo é considerado como “ruim” por agir completamente contra a violência totalitária do universalismo moderno: sentimento que coloca em “segundo plano” a eficiência externa, e protagoniza a eficácia interna, em um saber incorporado do corpo, em condutas que não passam necessariamente pela conscientização ou verbalização, garantindo, a longo prazo, a permanência irredutível das diversas declarações rotineiras, inclusive integrando seu oposto, ou seja, a felicidade e a infelicidade, o tudo e o nada. (MAFFESOLI, 2004, p. 32).

Figura 3 – imagem dos jovens espancados pelos apoios.

Figura 3 – imagem dos jovens espancados pelos <em>apoios</em>.

Fonte: print screen a partir do vídeo disponibilizado no YouTube[30].

Figura 4 – capa da Folha Universal que circulou entre setembro e outubro de 1999.

Figura 4 – capa da <em>Folha Universal </em>que circulou entre setembro e outubro de 1999.

Fonte: imagem retirada do site Black Women of Brazil[31]

Exu - entidade diaspórica, introdutor da oratória, que se posiciona na imprevisibilidade e transforma o absurdo em concatenação, que abre e fecha alguma coisa, através de práticas acolhedoras da imprevisibilidade, realizadas por saberes populares principiadores “do dinamismo, do movimento, dos caminhos, da comunicação, das trocas, dos entrecruzamentos, da sexualidade e da ambivalência” (RUFINO, 2014, p. 65) – e Xarpi – cultura coletiva de práticas que se posicionam antissimbolicamente através de procedimentos simbólicos, e que opera por práticas estéticas iniciadas e inacabadas em feitos que são alimentados cotidianamente, o que mantém a veracidade desse fenômeno como um “lugar de ensaios, em boa medida, inconscientes, de resistência aos paradigmas desencantados da modernidade.” (COELHO, p. 141, 2016) -, se entroncam a partir de corpos marginalizados, manifestadores de energias ambiciosas por desfrutes negados na condução colonizadora moderna, esta que harmoniza os sentidos da consciência com o esclarecimento aprisionador e anulador de episódios obscurecidos, nebulosos, misteriosos, enigmaticamente intensos, nascido de atitudes mais fervorosas do que ponderadas, especialistas em desarranjar a luminosidade hegemônica do entendimento ocidental.

A própria cultura da piXação, apesar de ser crime, exibe um manancial de saberes, vivências e artes de fazer, através de uma “escrita fora da escrita”[32], e se posiciona, assim como outras práticas[33], com um repertório estético, onde é em si mesmo catalisador de conhecimento e determinantes da experiência de estar na cidade, a partir de sua “presença” inexorável e inegável, o que a posiciona como um fenômeno:

... tão ou mais importante que aquilo que se fala dele, tanto o é que, como pudemos ver, quando indagados sobre as razões de suas práticas, esses meninos e meninas praticantes lançam mão frequentemente de metáforas sensoriais, afim de produzir um feito dessa “presença” em que os ouve, servindo-se, para isso, mais do enigma da poesia que da explicação clarificante. Nesse caso, o próprio discurso pretende funcionar como “presença”, impedindo que a experiência seja ameaçada por um único sentido, e dando, para isso, lugar devido à fiscalidade como fator determinante para uma compreensão composta da cultura. Trata-se, portanto, menos de saber o que pensam e mais de sentir o que sentem, recolocando em cena assim a corporeidade, dimensão negada para a invenção do homem incorpóreo moderno. (COELHO, p. 154, 2016).

Com isso, podemos suscitar que essas “metáforas sensoriais” vistas na citada tese de Gustavo Coelho – por exemplo, o cheiro e o barulho da tinta que sai da tala[34] -, coloca em cheque a ideia de que tudo deve ser justificado, pois as tentativas de questionar, possivelmente, podem nos revelar respostas “sem respostas”. Ou como bem diz o Xarpi e rapper NUNO DV[35], sobre a definição, não definida da piXação: “Pichação é uma pergunta sem resposta.”. (DV, 2013, p. 13).

“Porque, em certos lugares e/ ou momentos, nos sentimos livres para rir, gargalhar, chorar, louvar, e em outros não? Porque, no momento do gol, até o torcedor mais calmo fica imerso e “esquece” a sua “educação” para colaborar com a torcida, através de berros ofensivos contra a outra torcida e/ ou time? Porque não conseguimos entender de maneira concisa e segura os motivos de nossos gritos, no momento do gol (a favor ou contra) de nosso time de futebol? Os “porquês” mostram uma presença sensitiva, algo que demanda prioritariamente o corpo, quando grande parte dos motivos sobre “o que fazemos” não está na “boa” justificativa racional, e sim na negação da ideia de escolha. Com isso, empiricamente, podemos dizer que respostas como “pra você entender, tem que sentir”, confirma uma provocação: a aproximação sobre culturas que priorizam o corpo devem ser feitas para além dos “projetos conscientes” presentes nas bases conceituais modernas.

Para Gustavo Coelho (2016), as ações que podemos pouco explicar, aquelas que remetem a sentimentos, suponhamos, do tipo “Não sei como comecei, mas eu faço”[36], é algo pressuposto na relação entre a pessoa e a cultura que ela prática, existente não somente nas questões racionais, mas também sensoriais, emocionais, o sentir sem querer sentir, ou melhor, quando não se domina absolutamente o que se sente, logo, pode ser capturado, contagiado, submerso nas sensações - estas advindas da dinâmica do “ser sendo” (expressão de Heidegger, citada por Gustavo Coelho). Tal conduta anti-domestificadora nos dá pistas através do agir como forma indeterminada do ser, que se mostra mais permeável, chegando a reconhecer na alteridade algo ativo na sua própria construção, em energias dadas na circunstância de atividades com fortes características místicas, estéticas, com outras contextualizações performáticas, expressivas, sonoras, palavradas, figuradas, como as potências culturais que nascem da trincheira popular, formada de maneira inexorável na condição humana, e ameaça as possíveis dissoluções da vida como agente criativo.

A complexa trajetória ontológica do enigma, age prioritariamente como o mistério da existência, e opera como aquilo que impede a harmonização sobre conhecimento total das coisas no mundo. Manter as certezas em atemorização é a principal necessidade para a continuidade da existência das forças enigmáticas. Essa execução é regada e florescida dia a dia, logo, dá continuidade poética para a cultura, em um vão entre os fenômenos versus as certezas sobre esses fenômenos, que permite o viver, o falar, o sentir de algo não revelado, visto como subversor, diante das convicções ameaçadas. Esta aí o “lugar” de nossa trajetória pesquisadora.

O Xarpi e outros fenômenos pertencentes a “cosmologia ‘rueira’”, quando pensados em seu vasto repertório de indícios, pode ser provocado por outras reflexões sobre a subjetividade popular. Dessa forma, podemos reconhecer a cultura Xarpi, não em sua possível instigação de “dramas”, através de vidas míseras, desventuradas, desgraçadas, mas sim como um fenômeno autêntico, que se posiciona na prática produtora de aparições e significações estéticas, que desajustam o regime colonizador mental da subjetividade moderna, logo, é uma ação que não se enquadra nas lógicas empreendidas por tentativas explicativas de aprisionamento, como vemos nas aplicações policialescas oficialmente consolidadas pelo Estado, que mostra uma sensibilidade seletiva, através de ações que se configuram em divergências no tratamento de alguns sujeitos em comparação a outros. Para o Xarpi, as intervenções seguem pela dureza oficializada - através da “Política Estadual de Antipichação” (como já citamos em nota de roda pé) – não oficializada, em atividades individuais e agrupadas, que mostram um almejo pela figura do “justiceiro”, estes que operam pelo extermínio daquilo que não se enquadra nas morais estabelecidas. Diferentemente disso, para outras grafias ou estéticas imagéticas nos mesmos muros de uma cidade, são tratadas com o combate, a partir de um enquadramento benevolente reproduzido e exibido nas ideias e atividades de muitos projetos sociais, sobretudo naqueles que agem em forma de “curadoria” de atividades artísticas e/ou de conservação da cidade: o decreto[37] de 2014 batizado de GrafiteRio[38] - mobilizado pelo Instituto Eixo Rio[39] e assinado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro -, que dá alguns critérios e diretrizes normativos para as intervenções dos grafiteiros, liberando postes, colunas, muros, pistas de skate e tapumes de obras para realizar as intervenções, e proíbe a grafitagem em muros que são considerados patrimônios históricos, viadutos, fachadas de imóveis públicos e tombados, tudo ligado à ideia de revitalização de espaços públicos de “alto potencial turístico”, ao mesmo tempo em que ignora as atividades violentas sobre aqueles que não se mostram favoráveis ao contexto hegemônico, dizendo quem pode ser (ou não) potencializado.

A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e a suas legislações que (“des”) criminalizam as grafias marginalizadas urbanas, são fundadas no discurso de cidade “Graffiti Paradise”[40], que acaba legislando sobre o tipo de estética e em qual superfície o artista/arteiro estaria liberado para sua prática. Essa relação jurídica na GrafiteRio surgi logo no Parágrafo único do Artigo 1º do documento, pois tem como objetivo coibir as pichações:

Parágrafo único. O “PROJETO GRAFITE” estimulado pelo Poder Público, implementará políticas educacionais e culturais com a finalidade de inibir a prática de pichações que criam no ambiente urbano a poluição visual, transformando os espaços pichados em locais para a pratica do grafite como arte urbana, possibilitando a identidade artística e cultural aos seus praticantes.

Com essa realidade, podemos dizer que a mesma instituição que persegue, bate, rouba e até mata um piXador, é a mesma que licencia uma “pichação do bem”. A “liberação” de “vanguarda” feita pela prefeitura apenas para algumas superfícies acaba não amadurecendo a discussão sobre as estéticas gráficas das paredes urbanas, e tão pouco descriminaliza os praticantes rueiros que tem o spray como instrumento. O resultado de tal equívoco se dá no cotidiano amputador presente no universo Xarpi, que exibe uma contraditória justificativa para a cultura política do extermínio de uma juventude que sofre com um grande índice de homicídios[41].

Quando analisamos o movimento, a circulação, a pluralidade da relação pós-colonial presentes nas características da personalidade do orixá Exu e na cultura Xarpi, podemos contribuir com as provocações que se debruçam sobre as práticas que operam por elementos descolonizados, a partir da criação de espaços pelos quais o (a) sujeito subalterno (a) possa falar e ser ouvido (a). Tal lógica reconhece que não podemos falar pelo corpo subalternizado, na tarefa de desafiar uma proposta contra essa subalternidade (SPIVAK, 2010), oferecendo um espaço de ouvidos para vozes que narram outras racionalidades fenomenais de valores éticos, étnicos, estéticos, que não se encaixam na moral cívica, estas que, como Exu e Xarpi, se posicionam em perspectivas enunciativas, confrontando e desestabilizando o historicismo moderno que achata a realidade, e enquadra aqueles que não podem ser ouvidos.

Figura 5 - piXação Exu te ama”.

Figura 5 - <em>piXação </em>“<em>Exu te ama</em>”.

Fonte: site Monomito – Mitologia, Simbolismo, & o Sagrado[42].

Até aqui, podemos dizer que o enigma é o mistério do mistério, nossa parte “in-conhecível”, como um outro em nós mesmos, através de um princípio ativo de afetos em potencial, que não se encaixam na racionalidade esclarecedora, condenadora das ações afro-diaspóricas - por exemplo, quando agem com truculência sobre os corpos que devotam o orixá Exu, este proprietário da “chave” que abre e fecha os múltiplos caminhos e fronteiras do tempo-espaço -, e sonegadora de violações violentas (e possivelmente racistas), como as que acontecem sobre corpos cometedores de crimes irrisórios como a piXação - cultura que se mostra como problemática, diante das condenações, reclusões e morte realizadas pelo Estado e sua população diversificada, que banaliza o ímpeto juvenil, valorizando um muro mais do que uma vida.

Referências

BHABHA, Kamat Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: editora UFMG, 2010.

COELHO, Gustavo. Deixa os Garotos Brincar. Rio de Janeiro: Multifoco, 2016.

DV, Nuno. Rio de Riscos. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2013.

FANON, Frantz. “Os condenados da Terra”. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

GEERTZ, Clifford. Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

RUFINO, Luiz. Histórias e saberes de jongueiros. Rio de Janeiro: Mil Palavras, 2014.

SILVA, Jailson Souza. BARBOSA, Jorge Luiz. FAUSTINI, Marcus. O Novo Carioca. Rio de Janeiro: Mórula, 2012.

SILVA, Vagner Gonçalves da. EXU – O guardião da casa do futuro. Rio de Janeiro: Pallas, 2015.

SIMAS, Luiz Antônio. Pedrinhas Miudinhas – ensaios sobre ruas, aldeias e terreiros. Rio de Janeiro: Mórula, 2014.

SPIVAK, Gayatri Chakraworty. Pode o subalterno falar?. Belo Horizonte: editora UFMG, 2010.




[1] No respectivo texto, a palavra “Exu” será escrita com a letra “x” pois, geralmente, esta é a forma usada pelo cotidiano popular da cidade do Rio de Janeiro. Entretanto, também escreveremos e posicionaremos (de maneira sucinta) algumas outras formas de invocar Exu.

[2] A palavra “Exu”, que na pesquisa será escrita com a letra “x”, em ioruba, é escrita com dois acentos de crases, e com a letra “s” – Èsù. A cultura inclui o deus malandro-mensageiro Exu, que como Hermes, é o deus dos limites. Exu convenceu o Sol e a Lua a mudarem de lugar, levando o universo ao caos. Essas e outras informações estão contidas na publicação: DELL, Christopher. Mitologia: um guia dos mundos imaginários. São Paulo: Edições SESC São Paulo, 2014.

[3] Por Exemplo, em Cuba, Exu é conhecido como Eleguá. Informações presentes em “Histórias do Okú Lái Lái”. Disponível em: <http://olorum.lendas.orixas.nom.br/ebooks/004_africaculturaafrobrasileira.pdf>. Acesso em: 20 set. 2016.

[4] Por exemplo, a gira “Sino da Igrejinha” (“Seu tranca rua/ Que é dono da gira”), gravada por Martinho da Vila em 1974, no disco “Canta Canta, Minha Gente” (presente no compilado de canções que recebeu o nome de “Festa de Umbanda”) - segue o link da gravação do sambista: “MARTINHO DA VILA - FESTA DE UMBANDA”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8EAqazbPiRU >. Acesso em: 19 set. 2016. Gêneros musicais mais contemporâneos como o funk carioca, também exibem homenagens as figuras de Exú. Por exemplo, nos versos do MC Cidinho General (da dupla Cidinho e Doca): “Sou Cidade de Deus/ Fã de Bezerra, filho de Zé/ Malandro é malandro, e mané é mané, quem é, é/ Quem não é mete o pé” - “MC Cidinho - Um montão na hora da guerra fugiu”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7VCQvHjamnM>. Acesso em: 19 set. 2016.

[5] Como “Macunaíma” (de Mário de Andrade) e “Dona Flor e seus dois maridos” (de Jorge Amado), obras que tem como protagonistas personagens que são filhos de Exu.

[6] O orixá Exu é conhecido pelo globo por outros nomes como Eleguá, Elegbára e Eleguara, como sempre, nomes referenciados aquele que é senhor dos caminhos. Informações no texto “ELEGBARA: O SENHOR DOS CAMINHOS”. Disponível em: <http://ifanilorun.com.br/?page_id=4662>. Acesso em: 04 de out. 2016.

[7] Verso do poema de Nelson Maca no vídeo “Salgado Maranhão e Nelson Maca – Duas Gramáticas” – AUTORES EM CENA (2015). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rPINn3LislY>. Acesso em: 04 de out. 2016.

[8] Estar presente em uma circunstância que já tem seu final decidido previamente.

[9] Expressão que referencia algo que não se adequa a alguma coisa ou alguém.

[10] “Exu Lúcifer Estátua Do Brasil Quimbanda, A Umbanda, a Candomblé”. Disponível em: <http://www.ebay.com/itm/Exu-Lucifer-Statue-From-Brasil-Quimbanda-Umbanda-Candomble-/151859621315>. Acesso em: 8 de out. 2016.

[11] O estado do Rio de Janeiro, em articulação com seus municípios, decretou em 2014 a “Política Estadual de Antipichação”. Disponível em: <http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/CONTLEI.NSF/c8aa0900025feef6032564ec0060dfff/0f2335f8b010f23d83257c6000645557?OpenDocument#_Section1>. Acesso em: 01 de ago.2016.

[12] Apesar de ser usada na língua portuguesa com “ch”, iremos escrever a palavra (e suas derivações, por exemplo: piXar) com a letra “X” maiúsculo, em afinidade com o trabalho de Gustavo Coelho em PiXação: Arte e Pedagogia como Crime (2009), onde submete a grafia de Massimo Canevacci no livro Culturas eXtremas (2005).

[13] Essas duas últimas (vinculares e interpretativas), serão melhor provocadas no decorrer da produção da futura investigação dissertativa. Achamos importante lembrar dessa situação porque as duas palavras nos interessam, diante do foco no universo pesquisado.

[14] Notícia completa, de título “Vítima de intolerância religiosa, menina de 11 anos é apedrejada na cabeça após festa de Candomblé”. Disponível em: <http://extra.globo.com/casos-de-policia/vitima-de-intolerancia-religiosa-menina-de-11-anos-apedrejada-na-cabeca-apos-festa-de-candomble-16456208.html>. Acesso em: 21 set. 2016.

[15] Segurança privada comumente encontrada nos médios e grandes comércios dos centros das cidades e bairros brasileiros, e que são conhecidos por condutas questionáveis, em práticas muito parecida com o que o Rio de Janeiro conhece por milicianos – nomeação generalizada de pessoas que participam de grupo paramilitares (ex policiais, ex bombeiros, vigilantes, ex agentes penitenciários), que tem como prática a extorsão de moradores e comerciantes, em troca da garantia de proteção, através de um controle armado e do controle de muitos serviços, como a venda de gás, por exemplo. Informações no texto “As milícias de verdade”. Disponível em: <http://super.abril.com.br/comportamento/as-milicias-de-verdade>. Acesso em: 07 out. 2016.

[16] Situação ocorrida em janeiro de 2016. Matéria com o título “Vídeo mostra agressão a jovens no Centro do Rio”. Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/01/video-mostra-agressao-jovens-no-centro-do-rio.html>. Acesso em: 21 set. 2016.

[17] Informações na notícia de título “Umbanda e candomblé não são religiões, diz juiz federal”. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/05/1455758-umbanda-e-candomble-nao-sao-religioes-diz-juiz-federal.shtml>. Acesso em: 07 out. 2016.

[18] Falas do pastor, presidente da Igreja Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, Conferencista Internacional, escritor, cantor e deputado federal Marco Feliciano, no programa Antenados, da Boas Novas TV – Link (entre 8’ e 35’’ – 12’ e 47’’): “Antenados Pergunta - Marco Feliciano - 07-03-2016”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ztQnNz5ytnY>. Acesso em: 21 set. 2016.

[19] Matéria sobre o vídeo que circulou na internet, e que já comentamos aqui. Vídeo “Grafiteiros confundidos com Pixadores são agredidos no Centro do Rio de Janeiro”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KC25kwPFj3Y> (em 50’’segs.). Acesso em: 07 out. 2016.

[20] Como em “Traduttore traditore” do provérbio italiano, no sentido de trair a palavra, em nome de algo que seja considerado melhor. In: “Nota do Tradutor”, no livro “Pele negra, mascaras brancas”, de Frantz Fanon (2008), obra que iremos nos referenciar em seguida.

[21] No curta-documentário “Intolerâncias da Fé”, podemos acompanhar alguns desses casos, como os que acontecem em escolas públicas. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=usHFttOTDcY>. Acesso em: 21 set. 2016.

[22] Veículo jornalístico da Igreja Universal do Reino de Deus.

[23] Informações sobre o caso de Mãe Gilda, e a posição da oficialidade do Governo Federal em 2007, determina que o dia da morte de Mãe Gilda deve ser o Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa. Disponível em: <http://www.secom.ba.gov.br/2015/01/123313/Homenagem-a-Mae-Gilda-marca-Dia-de-Combate-a-Intolerancia-Religiosa.html>. Acesso em: 21 set. 2016.

[24] Informações na matéria “Rio é o estado com mais casos de intolerância religiosa contra crianças” –Disponível em: <http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-06-18/rio-e-o-estado-com-mais-casos-de-intolerancia-religiosa-contra-criancas.html>. Acesso em: 21 set. 2016.

[25] Parte do verso da música “João do Pulo”, de João Bosco, faixa lançada no álbum “Cabeça de nego” (1986).

[26] Geertz (2008) recupera o conceito de Weber, e acredita que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu. O comportamento é uma ação simbólica, e a ação social (fluxo do comportamento) faz com que as formas culturais se articulem. O significado das culturas (no plural) surge no papel que elas desempenham. Esse significado é público, porque a cultura é pública.

[27] Assim como outras ideias passadas no respectivo texto, o sentido de “julgo” e “justiceiro” será mais problematizada, no decorrer da produção dissertativa.

[28] Afirmação e declaração completa a favor dos justiceiros que violentaram suposto assaltante no vídeo “Rachel fala sobre o adolescente vítima de ‘justiceiros’ no Rio” - Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=unVIpQHLDwE>. Acesso em: 22 fev. 2016.

[29] Essa “volta aos místicos” estará sendo melhor analisada durante a qualificação da respectiva dissertação.

[30] “Grafiteiros são Espancados no Rio de Janeiro”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=t58kClQLW3w>. Acesso em: 08 out. 2016.

[31] “Mãe Gilda, a symbol of the fight against religious intolerance, to be honored with a bust”. Disponível em: <https://blackwomenofbrazil.co/2014/12/29/mae-gilda-a-symbol-of-the-fight-against-religious-intolerance-to-be-honored-with-a-bust/>. Acesso em: 08 out. 2016.

[32] Como bem explicou Gustavo Coelho (2015), sobre a filosofia da linguagem trazida por Maurice Blanchot.

[33] Na tese de Gustavo Coelho, são apresentadas para além da piXação, as culturas dos Bailes Funks de Galera, das Torcidas Organizadas e das Turmas de Bate-Bola. Informações contidas em entrevista com o professor. Disponível em: <http://vozerio.org.br/Gustavo-Coelho>. Acesso em: 07 out. 2016.

[34] Palavra lata ao contrário, é o dialeto usado entre os piXadores para identificar seu principal instrumento: a tinta spray.

[35] Aproveitamos esse ensejo quando citamos o piXador (rapper, produtor, radialista, escritor, flamenguista), NUNO DV, para dizer que em nossos textos sobre o universo da piXação - dentre outras culturas que se (retro)alimentam pelas suas energias enigmáticas -, não pretende realizar algum conceito sobre esses fenômenos, mas sim fazer do conceito esses fenômenos. Almejamos conceituar mais a vontade de (por exemplo) piXar do que conceituar tal universo. Em outras palavras, uma constante construção e destruição, concomitantemente.

[36] Como bem lembra Gustavo Coelho, citando uma das passagens do Xarpi Tatá, no filme “Luz, Câmera, PICHAÇÃO”. Ele diz: “Eu sou o Tatá, mas na verdade eu sou o João. O Tatá é um modo do João talvez se divertir, talvez viver algumas aventuras diferentes do cotidiano do João. Eu, como Tatá, desafio qualquer parada, como João eu não desafio ninguém, compadre. Então é isso, mas nunca deixar o Tatá se tornar o João. Porque se depender do Tatá, o Tatá não vai querer trabalhar, Tatá só vai querer piXar, compadre”. (COELHO, p. 119, 2015).

[37] Link oficial da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, que explicita do decreto “GrafiteRio” - Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/web/guest/exibeconteudo?id=4606694>. Acesso em: 07 out. 2016.

[38] Link com o decreto GrafiteRio - Disponível em:

<http://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/scpro1316.nsf/f6d54a9bf09ac233032579de006bfef6/31bf9681512db5a903257b7300614567?OpenDocument>. Acesso em: 15 fev. 2016.

[39] Espaço criado “para potencializar a cena urbana da cidade”. O Instituto Eixo Rio é um grupo que tem a pretensão de ser a principal plataforma de projetos culturais, e também ser o principal espaço de desenvolvimento comportamental de jovens talentos na cidade do Rio de Janeiro. Ainda sobre o discurso do Instituto Eixo Rio, eles acreditam serem “vozes das ruas”, tendo o foco em duas plataformas: a GaleRio – graffitis espalhados pelos muros da linha 2 do metrô; e a Referência de Sucesso – programa de mentoring (tutoria, mentor, “apadrinhamento”) financiado pelo “poder público”, com o intuito de desenvolver jovens que estão cursando a graduação ou algum curso técnico, “preferencialmente oriundos das camadas populares...”. O grupo ainda contribuiu com a construção da “primeira” galeria municipal de arte urbana do Rio. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/rio/primeira-galeria-municipal-de-arte-urbana-do-rio-abre-as-portas-16459172>. Acesso em: 13 mar. 2016.

[40] Informações na matéria “Decreto do prefeito Eduardo Paes cria normas para grafite na cidade”. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/rio/decreto-do-prefeito-eduardo-paes-cria-normas-para-grafite-na-cidade-11645311>. Acesso em: 07 out. 2016.

[41] Segundo dados divulgados em maio de 2015, o maior índice de homicídios no Brasil acontece com o público jovem (de 12 a 29 anos), pobre, do sexo masculino e da cor negra (perfil da maioria dos praticantes do Xarpi). Os dados foram divulgados pela Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República, e contém informações que argumentam sobre uma vulnerabilidade racial, já que o jovem negro teria 2,5 vezes mais chances de ser morto. Link sobre a divulgação da pesquisa, “Jovem negro tem 2,5 vezes mais chances de ser morto, diz relatório” - Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/05/jovem-negro-tem-25-vezes-mais-chance-de-ser-morto-diz-relatorio.html>. Acesso em: 6 out. 2016.

[42] “EXU TE AMA”. Disponível em: < https://monomito.org/2015/11/04/exu-te-ama/>. Acesso em: 08 out. 2016.