Rio de Janeiro. No dia 2 de fevereiro, na Cinelândia, antes do comércio começar a funcionar e os trabalhadores dirigirem-se aos seus escritórios, o ambiente explode em cânticos, toques, flores, presentes, perfumes e fé, que estarão presentes em uma festa que dura boa parte do dia e se repete anualmente.
Ali, no centro da cidade, pessoas se reúnem para organizar seus presentes e caminhar até a Praça XV, onde pegarão uma barca e demonstrarão sua fé, jogando balaios (cestas com presentes) em alto-mar, em plena Baía da Guanabara. Azul é a cor de Iemanjá. Azul é a cor do céu e do mar no dia 2 de fevereiro. O ensaio conta um pouco desta história e dos encontros que acontecem anualmente e foi desenvolvido no âmbito da pesquisa “Festas Populares de matriz Africana no Rio de Janeiro: samba, carnaval, Iemanjá, São Jorge, entre outros festivais”, realizada desde 2011 junto aos colegas do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (NEAB-UERJ). Este projeto tem como objetivo realizar uma pesquisa etnográfica visual sobre os festivais fluminenses, especialmente os cariocas, onde notadamente observamos a presença dos negros nos gêneros musicais, na dança, na religiosidade de matriz africana, nas organizações e em traços que compõem a cultura negra local.
Dentro deste projeto, tenho privilegiado as festas religiosas que privilegiam uma maior presença na cidade do Rio de Janeiro, seja expressa em caminhadas, procissões, carreatas, entrega de presentes e missas campais. Em tempos de debate sobre os processos de Intolerância Religiosa, estas festas, sincretizadas ou não, são uma demonstração pública de religiosidade e de perspectiva de diálogos no corpo da cidade. Além da entrega dos presentes à Iemanjá, que ocorre no Centro do Rio de Janeiro todo dia 2 de fevereiro, temos acompanhado com regularidade a Festa de Iemanjá do Mercadão de Madureira (dia 29 de dezembro), em um percurso que vai de /Madureira (subúrbio do Rio de Janeiro) até a Praia de Copacabana, assim como as Festas de São Jorge, principalmente a que se realiza na Igreja localizada na Praça da República, Centro histórico da cidade / Estação Central do Brasil.
As fotos que o compõe foram realizadas em 2012 e 2013, no momento inicial das obras na Zona Portuária, e pré implosão da Perimetral, e uma versão reduzida do mesmo foi apresentada em exposição no IV Seminário Imagens e Narrativas (INARRA): Antropologia Visual Fluminense, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em 28 de novembro de 2013. Agradeço aos colegas do NEAB/UERJ e do INARRA pela oportunidade de aprendizado e diálogo.