Caminhos percorridos na Iniciação Científica: um olhar a partir de uma sociedade amazônica da Região do Baixo Tocantins, no Pará.



Genisson Paes Chaves [!]


Introdução

O texto e as imagens aqui reunidas evidenciam um pouco da dinâmica sociocultural de uma sociedade amazônica, localizada na ilha Saracá, no território do Baixo Tocantins, especificamente no município de Limoeiro do Ajuru, no Nordeste Paraense. Refletem meu lugar de imersão e/ou de minhas primeiras experiências etnográficas, como Bolsista de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq) da Coordenação de Ciências Humanas do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Sob a supervisão da Professora Dra. Lourdes Gonçalves Furtado (Antropóloga, Pesquisadora da Instituição), durante o transcurso de agosto de 2011 a julho de 2013, estive navegando em águas interiores da referida ilha para, a partir do olhar etnográfico, refletir teórica e empiricamente sobre aquelas gentes, para assim, apreender, ainda que de maneira rasa, sua organização social e consequentemente, seu modo de viver. Este texto tem por objetivo, apresentar um pouco dessa dinâmica sociocultural e refletir sobre esse percurso, destacando algumas das principais dificuldades enfrentadas, para a interpretação dessa sociedade amazônica. Nesse sentido, informo que este relato deriva de anotações e de algumas preocupações surgidas na época desse transcurso. Portanto, o relato tem como público, estudantes de graduação que estão iniciando o exercício da pesquisa em Ciências Sociais e interessados que estejam passando por situações análogas as aqui descritas. Então, convido você, caro leitor, a embarcar comigo nesse barco e a conhecer um pouco do modo de viver da ilha Saracá.

 

O projeto RENAS, as relações de parentesco e as dificuldades enfrentadas

Iniciei o curso de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Pará em março de 2009. Ao longo do ano de 2011, participei de um Projeto de Extensão da UFPA. Lembro-me que uma das atividades do referido Projeto ocorreu no Campus de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi. Em formato de oficina, essa atividade foi conduzida por uma Pesquisadora da Instituição, membro permanente do Projeto “Populações Tradicionais Haliêuticas- Impactos Antrópicos, Uso e Gestão da Biodiversidade em Comunidades Ribeirinhas e Costeiras da Amazônia Brasileira”, ou simplesmente RENAS. Na ocasião, a pesquisadora apresentou as ações desenvolvidas por esse projeto. Confesso que fiquei encantado, pois há décadas o projeto vinha sistematizando pesquisas sobre diferentes sociedades amazônicas, nos mais diferentes habitats (Zona Costeira do Nordeste Paraense, águas Interiores etc.), buscando apreender as sociodiversidades, organizações sociais, cosmologias, dentre outras questões.

A oficina relatava uma boa história, pois tinha como enredo inicial o pioneirismo de uma equipe que se debruçava a conhecer as especificidades das sociedades amazônicas, especialmente as do universo haliêutico, ou seja, aquelas cuja relação com o mundo das águas é de notória importância, seja física e/ou simbolicamente. Na oficina, falei de minha ligação com a ilha Saracá e fui incentivado pela Pesquisadora a participar da seleção de bolsas da instituição. Ao participar da seleção, fui aprovado e em agosto de 2011 comecei a por em prática o primeiro Subprojeto de Pesquisa, o qual visava identificar e analisar os pontos de encontro entre a atividade pesquisa e a extração de açaí (Euterpe oleracea Mart.), as principais atividades socioeconômicas desenvolvidas pelos moradores da ilha Saracá.

 

Figura 1: Modo de viver de uma sociedade amazônica: Aposentada e apanhadora de açaí retornando de local de extração de açaí em um fim de tarde, comunidade do Rio igarapé Grande, ilha Saracá. Foto: Genisson Chaves, 2011.

Figura 1: Modo de viver de uma sociedade amazônica: Aposentada e apanhadora de açaí retornando de local de extração de açaí em um fim de tarde, comunidade do Rio igarapé Grande, ilha Saracá. Foto: Genisson Chaves, 2011.

 

 

Saracá foi a ilha escolhida para minha imersão hermenêutica devido ali eu guardar uma forte, rica e duradoura relação de vivência, parentesco e de amizade com as gentes daquele lugar. Aliás, foi essa ligação com essa sociedade que me motivou a “traduzir” essa realidade pelo olhar de um cientista social, ainda em construção. Pois é na referida ilha que minha mãe nasceu e é onde meus avós, tios e outros parentes, continuam a residir. Lá, morei durante os anos de 1996 a 1998. E depois de ter ido morar em outro município paraense, para a ilha Saracá sempre retornava para passar os feriados e as férias escolares. E quando então ali me encontrava, participava da coleta ou apanha de açaí – na linguagem local –, tanto para o bebe (consumo local), como para a comercialização nos municípios de Limoeiro do Ajuru e Cametá. Cheguei também a participar de algumas modalidades de pescaria, como a pesca com o uso de matapi (armadilha de pesca), de caniço (vara de pesca), tarrafa (rede de pesca), malhadeira e na captura do camarão “na boca do paneiro” [1] (recipiente para armazenar peixe, açaí e outras frutas).

Essa experiência, ao mesmo tempo em que me ajudava a entender as atividades ali desenvolvidas, atrapalhava, pois muitas vezes eu acreditava conhecê-las. E por julgar conhecê-las, muitos dos aspectos que ali ocorriam não eram por mim vistos, pois eram “normais”, “óbvios”, sem importância. Então como enfrentar isso? O caminho escolhido foi tentar construir uma postura de afastamento da realidade observada para, assim, interpretá-la. Mas como se afastar daquelas gentes, daquelas atividades? Isso seria possível? Lembro-me de alguém falando que apesar de eu ter essa forte ligação, não era como eles, pois não vivia mais na ilha e compartilhava todas as ideias, os acontecimentos locais...

Certamente, para mim, um iniciante de pesquisa não foi uma tarefa fácil, pois a mim foi exigida uma postura de constante desconfiança e um olhar de descrença, para assim, observar o familiar (VELHO, 1987) de forma cautelosa, na tentativa de evitar possíveis distorções daquele modo de viver, já que as impressões coletadas possivelmente seriam divulgadas em trabalhos científicos. Portanto, na ilha Saracá, eu não estava mais passando algum feriado ou as férias da faculdade, mas sim, tentando pesquisar, conhecer essa sociedade. Nesse sentido, havia no trabalho de campo, o medo de olhar e de escutar de forma equivocada, o que, sem sombra de dúvida, comprometeria a interpretação da dinâmica daquela sociedade. Visando enfrentar essa situação, sempre buscava perguntar se era aquilo mesmo que eu estava vendo, se as coisas seguiam a lógica de minhas anotações ou se eu não estava vendo, anotando “coisas de minha imaginação”. Nesse sentido, sempre perguntava àquelas pessoas sobre suas práticas, tentava comparar observações, duvidar do que eu descrevia e também compartilhava minhas reflexões com colegas e professores de graduação e com os pesquisadores do projeto RENAS, os quais eram mais experientes nesse campo da Antropologia. Certamente, era um exercício de grande aprendizagem, pois ali eu revia as anotações, buscava novas interpretações e comparava minhas observações com estudos correlatos ao tema, principalmente os produzidos na Amazônia.

Devido minha insegurança, motivada pela inexperiência em se fazer pesquisa, comecei meu trabalho de iniciação científica pelo próprio círculo de parentes. E uma de minhas primeiras entrevistadas foi minha avó. A imagem de fazer uma entrevista, sentado na mesma rede em que minha avó se encontrava, fez-me questionar se era assim que se fazia pesquisa. Por que não? Foi a resposta que uma antropóloga da Universidade Federal do Pará, minha professora de graduação, deu na época em que fiz este questionamento. Em seguida, os demais parentes, como tios e primos, foram as “cobaias” para esse exercício hermenêutico. Posteriormente, esse círculo foi aumentando e assim, outras pessoas do lugar foram entrevistadas. Com o tempo, aquela sociedade foi ganhando, conforme Malinowski (1978), a “carne e o sangue”, e os primeiros resultados, foram apresentados em eventos científicos.

No primeiro Seminário de Iniciação Científica, ocorrido em julho de 2012, no Museu Paraense Emílio Goeldi, pude perceber, por meio dos comentários de meus colegas de grupo de pesquisa, que não havia conseguido construir a postura de afastamento, pois meu olhar estava muito carregado pelas relações que construí com aquelas gentes. Já no segundo subprojeto de pesquisa em que foquei como o ambiente aquático era apropriado, social e simbolicamente por aquelas gentes, acredito que eu tenha me aproximado dessa postura de afastamento, ao qual não consegui alcançar no primeiro subprojeto de pesquisa. Isso se deve, em parte, a certa reflexão do trabalho anterior e pelas feituras que incorporei ao longo do primeiro ano da bolsa, logo, na fase seguinte eu estava mais atento ao que considerei como falho no primeiro trabalho.

 

Um olhar sobre a ilha Saracá

A partir de meu olhar, Saracá foi interpretada como uma ilha com características de várzea, constituída por gentes nascidas no lugar ou oriundas de outras ilhas e municípios locais. Por famílias constituídas por membros que variam de três a oito indivíduos. Estes são frutos da história amazônica, herdeiros do saber e conhecimento, principalmente da sociedade indígena, o que é refletido em suas técnicas de pescaria e saber sobre a natureza. Saracá é, portanto, constituída por um grupo de indivíduos que tem, especialmente, na atividade pesqueira e na apanha de açaí (Euterpe Oleracea Mart.), a base de sua reprodutibilidade material e imaterial. No seu interior, esse agrupamento humano guarda similitudes com as características presentes em sociedades camponesas, pois assim como visto por pesquisadores que estudaram (e estudam) em diferentes contextos camponeses do Brasil e em outros continentes, na ilha Saracá, o lucro não é o objetivo primordial dessas gentes; a relação com a sociedade hegemônica é forte, principalmente no que se refere ao fornecimento de diferentes espécies de peixes e de açaí nas feiras dos municípios de Limoeiro do Ajuru e Cametá, assim como na assimilação de ideias e no contato diário com as cidades e com os elementos da “modernidade”, como o rádio, a televisão, as mídias sociais, dentre outros; a Unidade de Produção (UP) é também a Unidade de Consumo (UC), ou seja, são os próprios membros do grupo familiar que trabalham para o “consumo socialmente necessário” (GARCIA JÚNIOR, 1983). No âmbito do grupo familiar, o indivíduo não é percebido como um trabalhador que deve ser explorado, mas sim, como um membro da família, um igual, que, certamente, deve ser poupado; a relação que a referida sociedade tem com a natureza também é diferente da ótica capitalista, pois, nesse contexto, a natureza não é percebida como uma mercadoria, mas sim, como a “mãe que tudo fornece”, seja a comida, a moradia, a vida etc.

Essa sociedade camponesa, dentre muitas outras, exemplifica uma maneira de viver específica, voltada principalmente para o mundo das águas, um ambiente que abrange os rios, furos, igarapés, os quais são as vias de locomoção de uma casa para outra e os “caminhos” ou a “rua” – no sentido proposto por Ruy Barata – que conectam Saracá, com ilhas circunvizinhas e os municípios locais. Figuram, portanto, como uma sociedade haliêutica (FURTADO, ), pois a relação com o ambiente aquático não é definidor do seu modo de viver, mas dá substância, feição e especificidade a essa organização social, que acompanha as dinâmicas, das marés, das águas. Segundo Furtado (1990), a importância que o ambiente aquático tem para as sociedades amazônicas é refletido na vida cotidiana, na sua vida material e social. Nesse sentido:

As águas, como a terra, representam vida e, por isso, exercem um papel preponderante na reprodução social tanto de grupos indígenas quanto rurais que habitam desde as mais ermas cercanias dos rios, lagos e igarapés às praias do litoral amazônico. Delas fluem imemorialmente os diversificados recursos, sobretudo os da pesca, que o homem lança mão para sua sobrevivência, ascensão social e, ao mesmo tempo, para abastecer centros populacionais com os quais está em contato. Abrigam valores que, extrapolando o plano puramente material, são responsáveis pela explicação de comportamentos culturais, particularmente entre grupos indígenas cujo universo cosmológico é permeado pelas relações do nativo com o meio ambiente (FURTADO, 1990, p. 4).

 

No âmbito dessa sociedade, o ambiente aquático é um espaço que serve como abrigo do mapará (Hypophthalmus edentatus) e da tainha (Mugil brasiliensis), espécies de peixes muito valorizadas por essa sociedade amazônica e também, é morada de encantarias, como a famosa cobra grande, que guarda os rios da ganância de muitos e que quando irritada, joga o barro da beira, causando o assoreamento; e o fogo do mar ou fogo santelmo, uma bola de fogo que anda por sobre as águas da Amazônia (CHAVES, 2013), dentre outros. Esses são alguns dos seres fantásticos (MORAES, 2007) que povoam o imaginário local e que servem como enredo para muitos causos.

As casas da ilha Saracá, em sua maioria, são de madeira e acompanham os contornos dos rios[2] Gregório, Cobra, Mata Fome, Paxiba, Igarapé Grande, Três Barracas e Armândio. O açaí, no âmbito dessa sociedade é alimento, comida central, item indispensável, que não pode faltar, no chão de madeira, a mesa de muitas dessas gentes, ao lado de peixe, do camarão (Macrobrachium amazonicum) capturado no matapi, na tarrafa ou no paneiro de jacitara (Desmoncus sp). Quando não, comido com enlatado (comidas industrializadas, como conserva e sardinha) ou com a mucura (Didelphis marsupialis), capturada no mundé (armadilha confeccionada para captar mucura).

O açaí, “Ah, o açaí”, é, conforme a letra da música de Nilson Chaves e Joãozinho Gomes, um fruto que se “entrega até o caroço” e que se deixa usar sem discussão (PONTE, 2013) por diversas sociedades da Amazônia. É uma palmeira santa, árvore mãe que se entrega na forma de mingau de arroz, curueira ou de farinha; na carpintaria local, servindo seus estipes na construção de paredão (armadilha de pesca, em outros locais é denominada de curral), galinheiro, curral de corpos, pontes, casinhas para as crianças brincarem, trave para o gol do jogo de futebol; suas folhas são usadas em brincadeiras infantis como a bandeirinha ou no moquém, para amarrar a farofa de peixe (mistura de farinha d’água com temperos e tripas de peixe) ou como suporte deste no fogão a lenha; na confecção de peconha (trançado de folhas para auxiliar o apanhador de açaí na apanha do cacho) ou como caniço (vara de pesca). Enfim, uma infinidade de usos sociais que já ganhou o mundo, na forma de sorvete, suco, energético, dentre outros. Abaixo, segue-se um quadro de imagens que refletem um pouco desse modo de viver camponês:

Figura 1: Reflexos de um modo de viver amazônico: a) gentes locais se locomovendo no Rio Igarapé Grande por meio de embarcação de tipo casco; b) pesca om o uso de caniço no Rio Igarapé Grande; c) apanha de açaí para autoconsumo; d) moradores locais jogando bola em praia de maré, localizada no Rio Tocantins; e) Senhora disbulhando (retirando os caroços de açaí) açaí para consumo da casa; f) embarcação do tipo casco esperando apanhador de açaí retornar do local de extração de açaí; e g) peconhas utilizadas para apanhar açaí. Fotos: Genisson Chaves, 2014.

Figura 1: Reflexos de um modo de viver amazônico: a) gentes locais se locomovendo no Rio Igarapé Grande por meio de embarcação de tipo casco; b) pesca om o uso de caniço no Rio Igarapé Grande; c) apanha de açaí para autoconsumo; d) moradores locais jogando bola em praia de maré, localizada no Rio Tocantins; e) Senhora disbulhando (retirando os caroços de açaí) açaí para consumo da casa; f) embarcação do tipo casco esperando apanhador de açaí retornar do local de extração de açaí; e g) peconhas utilizadas para apanhar açaí. Fotos: Genisson Chaves, 2014.

 

Figura 2: Cenas amazônicas: a) um olhar da ponte para uma típica moradia local; b) o retorno a ilha, filhas da terra tratando de peixe em uma ponte, localizada em frente a uma residência; c) momento de festa no borqueio e/ou bloqueio do mapará no Rio Tocantins; d) nas férias, filho da terra lembrando da apanha de açaí; e) moradores da ilha no borqueio, cerco de peixe; e f) rede de borqueio sendo puxada para capturar o peixe mapará. Fotos: Genisson Chaves e Geovane Chaves, 2014 e 2013.

Figura 2: Cenas amazônicas: a) um olhar da ponte para uma típica moradia local; b) o retorno a ilha, filhas da terra tratando de peixe em uma ponte, localizada em frente a uma residência; c) momento de festa no borqueio e/ou bloqueio do mapará no Rio Tocantins; d) nas férias, filho da terra lembrando da apanha de açaí; e) moradores da ilha no borqueio, cerco de peixe; e f) rede de borqueio sendo puxada para capturar o peixe mapará. Fotos: Genisson Chaves e Geovane Chaves, 2014 e 2013.

 

Portanto, este pequeno relato, sem um devido aprofundamento, tentou focar uma experiência de pesquisa, realizada no âmbito da Iniciação Científica do Museu Paraense Emílio Goeldi. Como caminho para apreender o métier antropológico, o exercício foi realizado em Saracá, uma ilha relativamente já “conhecida”, devido a relações de parentesco e por também lá já ter residido durante certo período de minha infância. Devido minha imaturidade em se fazer pesquisa, iniciei meu trabalho de iniciação científica entrevistando os membros do próprio círculo de parentes. Nesse sentido, meus avós, tios e primos, foram as cobaias nessa empreitada. Aos poucos, os demais moradores foram entrevistados e nesse transcurso, a ilha foi “sendo publicada” em resumos e artigos de anais de eventos. Está ilha, também foi meu laboratório de pesquisa para a realização do Trabalho de Conclusão de Curso, da graduação em Ciências Sociais. Espero que este pequeno relato possa contribuir, de alguma forma, com os trabalhos hoje desenvolvidos no âmbito da iniciação científica. Mais que trazer um pouco de minha trajetória na Iniciação Científica, esse relato é a maneira que encontrei para homenagear os 50 anos de pesquisa do Grupo RENAS, assim como os 150 anos do Museu Paraense Emílio Goeldi, em 2016.

 

Referências


CHAVES, G. P. Faces das águas: um estudo etnográfico sobre a apropriação social do ambiente aquático na Ilha Saracá (Pará). Relatório de pesquisa. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2013.

 

FURTADO, Lourdes Gonçalves. Apresentação. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Belém, Série Antropologia, vol. 6 (1), 1990.

 

GARCIA JUNIOR, José Afrânio. Terra de trabalho. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra (Coleção estudos sobre o Nordeste), 1983.

 

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do pacífico ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos no arquipélago da Nova Guiné, Melanésia. São Paulo: Abril Cultural, Coleção os Pensadores, 2ª ed., 1978.

 

MORAES, Sérgio Cardoso de. Uma arqueologia dos saberes da pesca. Belém: EDUFPA, 2007.

 

PONTE, R. X. Assahy-yuricé, iassaí, oyasaí, quase, açãy, jussara, manacá, açaí, acay-berry: rizoma". 163f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais). Universidade Federal do Pará. Belém, 2013.

 

VELHO, Gilberto. Observando o Familiar. In: Individualismo e cultura: Notas para uma Antropologia da Sociedade Contemporânea. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1987, p. 121-132.

 

 

 

[1] Quando estão se locomovendo nas embarcações, os pescadores conseguem ver o cardume de camarão andar pelo igarapé. Isso fica mais evidente quando determinado indivíduo passa o remo por sobre a água, uma prática simples, que consiste em colocar o remo dentro da água e movimentá-lo, o que faz com que o camarão pule para fora da água e retorne para esta. É a safra do camarão. Quando esta ocorre, as gentes da ilha Saracá colocam matapis dentro do igarapé ou nas praias da ilha. Quando não, esporadicamente vão aos igarapés com um paneiro em mãos. Ao chegarem aos igarapés, um dos indivíduos entra neste e acocorado, encaixa o paneiro no meio das pernas, e com as mãos, puxa a água do igarapé para o interior do paneiro, fazendo com que o camarão que ali esteja, seja empurrado para o paneiro e assim, capturado. O camarão de igarapé é bastante valorizado por essa sociedade devido sua “casca” estar mole. Sobre isso, os moradores narram que o camarão vai ao igarapé para trocar de casca, pois a areia da praia faz com que ele se “rale” e/ou a danifique, fazendo com que sua casca fique machucada, o que por sua vez, pode comprometer seu “bem-estar”.

[2] Terminologia local utilizada para nomear os locais de povoamento.

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